A casa C/Z pretende abrir-se sobre as variadas paisagens que do ponto mais alto do terreno se avistam. Partindo de um conjunto de volumes separados entre si, e seguindo a adaptação da arquitectura tradicional ao terreno, fizemos do espaço unificador dos quatro volumes um espaço de estar, sendo as suas paredes interiores uma continuidade das suas paredes exteriores, onde apenas o vidro faz a separação entre o espaço exterior e o espaço interior da casa.
Consoante o vento predominante ou a vista pretendida, a casa abre-se às várias paisagens; além do mais, a sua ligação e permeabilidade com o exterior é total. O volume maciço em madeira escurecida transforma-se em quatro volumes quando os grandes panos de vidro se abrem permitindo o prolongamento sobre as várias plataformas da casa.
Desde o início que a madeira se surgiu como o material a ser utilizado para dar forma à casa. Não só por estarmos a trabalhar num contexto rural - a ilha do Pico - onde a natureza, pela sua força avassaladora, se assumiu como a linha de força definidora de todas as estratégias de desenho, mas também pelo facto da madeira ser o material ideal para a comunhão que pretendíamos entre os espaços interiores e os espaços exteriores da casa, identificadora de uma unidade levada ao limite.
O uso de um material tão associado à construção tradicional, não nos impediu de explorarmos o seu potencial de uma forma contemporânea. Assim, escurecemos a madeira com lazur preto de forma a intensificar a reflexão da luz nos vários espaços da casa. Este tom permite planos escuros e opacos que, devido à geometria da casa, se relacionam sempre com planos onde o preto adquire tons prateados e reflecte muitas vezes o verde das árvores e os reflexos da água, assim se transmutando e transfigurando de forma continuada, impedindo qualquer monotonia cromática.
Esta pintura permitiu-nos ainda manter a leitura dos veios e dos nós da madeira de criptoméria contrastando, como dissemos, com uma linguagem contemporânea, mais abstracta, que não deixa de ser surpreendente num material tão natural e ancestral como a madeira.
Este edifício foi concebido de forma a obter uma classificação máxima do ponto de vista da sua eficiência energética. Usa um sistema de energia solar para aquecimento de água, bem como um cuidado sistema de ventilação natural de forma a manter a casa com uma temperatura equilibrada e níveis de humidade controlados, facto de grande relevância quando se constrói em pleno Oceano Atlântico.
Para nós foi um grande desafio pensar numa casa em madeira que pudesse enquadrar-se e tirar partido de uma paisagem tão forte como a existente e que permitisse, a quem nela habitasse, experienciar um espaço contemporâneo aliado a técnicas construtivas tradicionais e à utilização de um material natural e ancestral como a madeira.