Em alvenaria de pedra de basalto aparente, cobertura em telha sobre estrutura de madeira e caixilharias de madeira pintada, se reconstrói a imagem tradicional. Com volumes baixos, compridos e quebrados, coroados por elementos metálicos, se introduz a contemporaneidade.
Próximo da Estrada Regional que liga Madalena a S. Roque e na periferia do núcleo principal das Bandeiras, uma canada abandonada apontando à montanha, dá acesso a um terreno de dimensão reduzida onde as diferentes construções se encontravam em ruínas.
Da antiga construção, como elementos sobreviventes à passagem dos terramotos e do tempo, restava uma fachada empenada com janela sobranceira à canada, umas escadas que se adivinham, uma chaminé encimando uma parede e um balcão; semelhantes a tantos outros e únicos na magia do sítio.
Por entre as pedras caídas e a vegetação espontânea, soleiras, ombreiras, cantarias e o lugar do porco, notável na sua funcionalidade e perfeito na forma e implantação.
Esta era a realidade há uns anos atrás, deprimida e deprimente para quem assistiu a uma ilha povoada com o dobro da população e que o ciclo eruptivo dos Capelinhos na vizinha ilha do Faial afugentou.
Um espaço para reorganizar, sem a mais valia e simultaneamente ditadura do mar, aberto à imaginação e ao desafio de uma natureza geometrizada pelo Homem e revolta pelas erupções.
Aproveitando a imagem do edifício principal e a implantação pré-existente, desenharam-se dois edifícios albergando três unidades residenciais T1 e uma zona comum em volta do lugar do porco, criando assim um pequeno complexo turístico, onde os elementos construtivos da arquitectura tradicional vão sendo reinterpretados com mais ou menos liberdade.
Deste jogo resultam pequenas diferenças significativas entre os dois edifícios que, associadas à manutenção dos volumes, da escala e da função, mantêm viva a memória da organização hierárquica do local.
Abertas a São Jorge e virados para a montanha do Pico, as pequenas unidades residenciais relacionam-se diferentemente com o exterior através de áreas privadas ou semi-privadas, relvadas ou pavimentadas, todas elas delimitadas por muros de pedra, que escondem ou conduzem o olhar para visões parcelares de proximidade ou globais no horizonte.
Vinhas em currais delimitam o terreno a norte introduzindo a necessária transição entre uma paisagem de recreio e a paisagem rural naturalizada pelo abandono e pelas cabras pastando nos terrenos vizinhos.
De tudo isto nasceu um lugar para estar e viver a memória do sítio.