Situada na Estrada Regional, em S. Miguel Arcanjo, a denominada Casa do Ouvidor de S. Roque, parte integrante do Inventário do Património Imóvel dos Açores, encontrava-se há muito em ruína.
Como é comum nesta região a construção limita a estrada e liberta o terreno para a exploração agrícola. A existência de sucessivas plataformas a cotas inferiores, para vencer a acentuada pendente, esconde-nos a paisagem mais próxima, criando a ilusão de que todo o conjunto flutua.
Acessível pelo balcão do piso superior, a construção em dois pisos, originalmente em L, é rematada naquele nível por um forno e uma figueira que a transformam em U. Um anexo e um enorme tanque rematam o conjunto e resolvem o desnível entre o piso de entrada e o logradouro.
A proposta contempla a adaptação da construção principal a duas unidades tipo T2 e o anexo a mais uma do mesmo tipo. Tentando manter o mais possível a leitura das construções originais, não se deixou contudo de introduzir, por escavação ou acrescento, pequenas áreas exteriores ou interiores necessárias a uma utilização racional da casa e da atafona.
Pátios para obter iluminação e ventilação, áreas para cozinhas ou quartos, recuo da construção para preservação da figueira, são intervenções de perceção fácil, já que claramente apostam numa linguagem contemporânea, mas suscetível de integração.
Também na cobertura se evidencia a construção nova, já que a mesma, embora em telhado de telha canudo e em duas águas, é autónoma.
Dado o estado de degradação evidente do conjunto, foi desmontada a construção, numerando todas as pedras para uma posterior remontagem. No piso inferior restaram as paredes que suportam as terras, procedendo-se à sua consolidação através da pregagem de uma malha de aço e à execução de uma parede de betão que preencheu igualmente os vazios e as juntas das paredes existentes.
No primeiro piso as paredes foram igualmente reconstruídas, mas já não recorrendo a esta segunda pele em betão.
A estrutura de cobertura em madeira ensaia a reprodução do sistema tradicional e aparente, embora pintado.
Baseado nesta informação e na observação de outras casas de influência erudita (nomeadamente junto ao mar na Área de Paisagem Protegida da Cultura da Vinha da Ilha do Pico), o edifício manteve esta dualidade dos corpos originais e diferencia-se da construção nova que é totalmente rebocada; para a atafona, a dualidade surge com a ampliação rebocada, já que a existente manteve o seu carácter rude, em alvenaria irregular de basalto aparente. A caixilharia, sempre em madeira pintada a tinta de óleo e na cor branca, revela também a origem através de desenhos e tipologias diferenciadas.
Um corpo novo, vermelho, marca a intervenção e a refuncionalização do conjunto, aberto a quem queira gozar da magnífica paisagem sobre o canal Pico/ S. Jorge. Embora de reduzida dimensão, o seu carácter diferenciador confere-lhe também o papel de ator, pois referencia e permite inscrever todo o novo conjunto na paisagem.