Requalificação do Farol dos Capelinhos - Centro de Interpretação

Ilha do Faial, 2003 - 2008

Importante enquanto momento histórico e de compreensão da formação do arquipélago dos Açores, a erupção ocorrida em 1957/58 transformou definitivamente a paisagem da Ilha do Faial, soterrando o farol existente naquela ponta da ilha, e abriu uma importante página na compreensão científica dos vulcões submarinos.

A exaltação deste momento e das suas consequências, deveria ser premissa na intervenção que preenchesse a lacuna existente. A transformação do farol e da área envol-vente, com o intuito de instalar um centro de interpretação, deveria preservar a ruína, recuperar paisagisticamente a zona, sacralizar a imagem resultante e proporcionar a com-preensão de todas as fases, desde a construção do farol até aos dias de hoje.

Neste sentido, a organização da receção viária ao visitante foi escolhida em local mais distante; com o olhar fixo no farol e no vulcão.

O edifício é enterrado, pousado sobre o terreno imediatamente antes da erupção, e pro-põe um percurso pela história, subdividindo os conteúdos museológicos de carácter in-formativo, científico e lúdico em 3 fases distintas: antes, durante e depois da erupção.

O percurso histórico começa num grande foyer circular com 25 metros de diâmetro, im-plantado exatamente sob o cul-de-sac até então existente, e acaba nas ruínas do farol, emergindo num cubo de vidro revestido a aço; o acesso ao farol mantém-se independen-te e o seu funcionamento tem como objetivo ser um miradouro privilegiado.

Construído em betão e despojado nos materiais de acabamento, o edifício vive da propos-ta interativa da museologia e dos cenários arquitetónicos que se vão constituindo ao lon-go do percurso.

A adoção destes princípios proporciona a minimização dos impactes que uma intervenção tradicional poderia acarretar, permitindo que a perceção do local se processe por eta-pas, desde a emocional até à científica.

Apresentado publicamente nos dias 31 de Julho e 1 de Agosto de 2003 (Centenário da inauguração do farol dos Capelinhos), o estudo prévio mereceu o apoio do público e das entidades presentes, pelo que deu origem ao projecto de execução e consequente cons-trução, tendo em vista a abertura do Centro de Interpretação do Vulcão durante o período das comemorações do cinquentenário da erupção, e que ocorreu em 17 de Agosto de 2008.

A possibilidade de participar na definição, conceção, design e acompanhamento dos conteúdos museológicos, permitiu o ajuste sistemático do edifício, transformando aqui o ato de projetar e construir num laboratório contínuo, onde se conjugaram novas valências para além das habituais.

Diferentes especialistas concretizaram os conteúdos, introduzindo variantes resultantes dos meios técnicos e artísticos inerentes à conceção e produção dos mesmos.

Esta oportunidade de controlar ou a mudança mais profunda ou o mais pequeno detalhe, elevou o nível da responsabilidade do Arquitecto, oferecendo mais meios à concretização do ideal da unidade entre o edifício, o seu conteúdo, e o sítio.