Cisterna Mirante do Jardim António Borges

Ilha de São Miguel, 2001 - 2001

A intervenção na Cisterna Mirante foi realizada no âmbito do Projecto de Recuperação e Revitalização do Jardim e consistiu na sua reconversão em Polo Museológico para Exposições Temporárias.

A solução conservou integralmente o espaço e a imagem da cisterna existente, no respeito pela sua função anterior, essencial para a manutenção do Parque à época da sua construção; consistiu na introdução de uma escada e respectivos passadiços e patamares, em bloco único e solto da construção existente. O bloco de escadas funciona portanto como um elemento efémero.

Introduziu-se um passadiço de acesso, no seu interior, que definiu um eixo central entre a porta e a única janela existente, no extremo oposto, reproduzindo o eixo de luz natural, no sentido Norte-sul.

O bloco é constituído pelo passadiço e dois pequenos lanços centrais de degraus sobrepostos no espaço, nos topos superior e inferior, dois patamares transversais e paralelos a Poente e a Nascente, e dois lanços de escada junto às paredes Sul e Norte, num total de 34 degraus.

A cota do primeiro patamar desenvolve-se de forma a permitir ao olhar apreciar a vista para o exterior através da janela.

A escada, solta e transparente, organiza o percurso expositivo ao longo de uma altura disponível de 6 metros. O percurso a realizar, da entrada até ao pavimento da cisterna, permite a leitura do espaço e a visualização dos elementos a expor, que podem ser suspensos dos espaços intersticiais entre os arcos do tecto ou dos vãos criados entre lanços da escada.

Pretendeu-se que o processo expositivo fosse muito flexível, criando a possibilidade de colocação de objectos suspensos em paredes ou do teto, através de calhas instaladas e elementos de suspensão na construção e no bloco das escadas.

A escada é constituída por elementos de aço inoxidável e vidro, o que lhe confere uma expressão muito leve e permite o atravessamento de luz e a percepção constante de todo o espaço.

As vigas e os perfis metálicos cumprem simultaneamente uma função estrutural e de suporte das infraestruturas de iluminação e de suspensão dos objectos ou elementos a expor.

A iluminação constitui um momento importante para a leitura do espaço e contribui para a reconstituição do ambiente "secreto" do poço da cisterna. Uma sanca envolvente na base dos arcos da cobertura ilumina os espaços entre os mesmos, calhas suspensas das vigas metálicas de suporte dos patamares incluem projectores a orientar sobre os elementos a expor e projectores encastrados no pavimento "varrem" as paredes da cisterna com luz no sentido ascendente, tal como o percurso de regresso à porta de entrada e à luz do exterior.

A porta de entrada, que funciona como uma portada de protecção sobre uma porta em caixilharia de aço e vidro, foi pintada no tom de vermelho dos gradeamentos dos muros do Jardim, que se desenharam em barras de aço verticais. No pavimento utilizou-se a pedra da região.

Para minorar as condições de humidade construiu-se uma parede dupla, ventilada, drenando-se a base da parede.