“… A situação do mosteiro, é, sem dúvida, a melhor das redondezas. Além de um terraço para onde dão os principais quartos, existe um excelente e amplo eirado no cimo do edifício, com lindas vistas do mar e da terra, que os frades podiam gozar sem sair de casa. …”
in Joseph e Henry Bullar, Um Inverno nos Açores e um Verão no Vale da Furnas, Volume 1, 1841
O Convento de S. Francisco sofreu uma intervenção profunda de restauro e reabilitação para a sua transformação em unidade de Turismo de Habitação.
A construção, com origem no início da povoação da ilha sofreu sucessivos acrescentos, admitindo-se que grande parte da área seja da segunda metade do século XVIII.
A arquitectura do edifício é de uma grande austeridade formal. Os vestígios das diversas épocas da construção, patente na leitura das suas fachadas, conferem-lhe uma grande originalidade. O edifício tem no seu total 2 430m2 de área construída, e 2 175m2 de área em logradouros exteriores, claustros, pátios e jardins.
O projecto consistiu essencialmente na reconversão funcional do espaço interior. As intervenções, tanto no interior como no exterior são, intencionalmente, dotadas de actualidade, embora discretas e formalmente revestidas da mesma austeridade que caracteriza o existente. O desenho é depurado e as formas simples, integrando as alterações como mais uma sobreposição na leitura global.
Pretendeu-se dotar todo o espaço de níveis actuais de conforto e criar zonas distintas no respeito pelas várias áreas da construção.
Fizeram-se dez quartos com casa de banho própria, desenvolvendo as características próprias de cada espaço.
Foram criadas diversas zonas de estar, desde a grande sala de convívio a pequenos espaços apelativos à estadia em áreas junto às janelas do corredor.
Recuperaram-se, sempre que possível, os acabamentos existentes utilizando-se os materiais tradicionais.
Os novos pavimentos em pedra da região apresentam modulações rigorosas, por oposição às existentes. Pavimentos e tectos em madeira desenham-se com volumes e linhas rectas, bem como as portas e as portadas que recuperam as almofadas com relevos rectilíneos.
No corpo anexo, enfatizando o seu anterior caracter agrícola, recuperou-se o vigamento da cobertura, que se deixou visível sob o forro de madeira. As instalações sanitárias constituem pequenas caixas dentro do espaço libertando a vista interior do volume do telhado.
As caixilharias, de vidro inteiro, são cinza escuro, confundindo-se com a cantaria envolvente.
Abriram-se pequenos vãos nas fachadas, na sua maioria para iluminação de espaços de serviço, pretendendo-se recuperar a ideia dos tradicionais “ralos”, com cantarias de desenhos simples e marcadamente contemporâneas.
Desentaiparam-se arcos e vãos, interiores e exteriores, permitindo a leitura e o usufruto dos elementos da construção das várias épocas.
A área remanescente que envolve o Convento constitui um espaço verde de lazer, integrando uma piscina.
Redesenhou-se ainda, a nascente do edifício, a escadaria da igreja, fazendo a ligação do Convento ao jardim público.