Gare Marítima de Passageiros do Porto da Calheta

São Jorge, 2007 - 2010

A Ilha de São Jorge é extraordinariamente longa e estreita, definindo duas costas (Norte e Sul) muito declivadas, constituindo um planalto longilíneo e escarpado sobre o mar.

O Porto da Calheta assume importância, como uma das principais portas de entrada na Ilha, sendo que o desenho urbano da Vila se estrutura sobre a via de ligação desde o mesmo Porto ao planalto e que o maior espaço público de referência deste agregado, a “praça”, se encontra imediatamente junto à velha rampa do porto. 

À data do projecto, o Porto havia sido já alvo de 3 grandes ampliações, desde o final da década de 1970, o que levou a uma progressiva interiorização da muralha antiga em pedra que deixando-a como elemento urbano de separação física entre a área urbana e a portuária, definindo uma das laterais da praça atrás indicada.

O projecto parte deste reconhecimento da importância urbana daquele conjunto com a praça-rampa e a muralha portuária que a conforma, procurando com o novo edifício a introduzir, contribuir para a construção progressiva daquele espaço público fundamental para a Vila da Calheta.

O modelo tipológico para o edifício baseava-se no das gares dos portos das Velas (São Jorge) e de São Roque (Pico), ambas da década de 1990, caracterizando-se por uma construção simples, de piso térreo e desenvolvimento longitudinal, com cobertura em terraço (acessível ou não) e com um dispositivo composto por uma sala central de espera para passageiros, com ligação directa ao exterior, ladeada pelos blocos de serviços de bilheteira, de instalações sanitárias, pequeno bar e outras.

No projecto optou-se por adossar o edifício à muralha antiga existente, sobre a plataforma nova de aterro portuário, voltando-se directamente ao embarcadouro a sala de espera. 

Deu-se especial atenção à forma como a nova construção toca na antiga muralha, procurando preservar a sua escala, e dar maior sentido de uso ao passeio pedonal existente sobre esse muro, tentando também consolidar um conjunto construído a que o edifício da Lota (anos '90) também se tinha procurado ligar, rematando-o a Sul.

Concebeu-se um terraço acessível e semi-coberto sobre o piso térreo, ligado por percursos pedonais à antiga muralha e ao novo muro-cortina em betão, onde se coloca a infraestrutura de pequeno bar, pretendendo-se cerzir os vários espaços adjacentes com uma esplanada à cota alta, que funciona como um “pivot” entre o interior e o exterior da antiga muralha, a praça e o porto, a enseada e o canal.

Devido a condicionantes que nos ultrapassam foi decidida durante a execução da obra a demolição parcial da muralha antiga, no troço que se prolongava além do edifício, tendo-se alterado o projecto no sentido de criar um remate para o conjunto.