O promotor da intervenção é Genuíno Madruga, pescador e velejador que em 2009 completou a sua segunda viagem de circum-navegação a bordo do seu veleiro “Hemingway”, consistindo o programa de um restaurante vocacionado para a confecção de produtos marinhos de origem local, integrando no seu interior a exposição de artefactos que são testemunho das viagens de Genuíno.
A intervenção localiza-se na Cidade da Horta, na frente marítima da Baía de Porto Pim, concretamente em dois lotes contíguos situados no encontro da Areinha Velha com a Rua Nova, no remate da principal ligação entre esta Baía e a da Horta.
Esta zona, é marcada pela presença de edifícios e infraestruturas de diferentes tempos que manifestam uma indissociabilidade do espaço urbano com o mar, como sejam as fortificações de controlo sobre a Baía de Porto Pim; os edifícios de caris industrial afectos à construção e à operacionalidade do Porto durante o decurso do século XX; a Fábrica da Baleia, os armazéns das embarcações baleeiras na Rua Nova, ainda por recuperar; entre outros.
Os dois prédios encontravam-se ocupados por edificações antigas, térreas, uma em estado de ruína, outra habitável mas amplamente descaracterizada.
O projecto opta por manter a configuração planimétrica dos prédios iniciais expressa pela sua volumetria em dois corpos diferenciados, contribuindo para a integração do novo edifício na malha urbana existente.
No prédio da Areínha Velha amplia-se para dois pisos, atingindo a cércea em que esta frente urbana se estabilizou. Lá se colocam os espaços principais de público, com a sala de refeições em dois andares, tirando partido da vista privilegiada sobre a Baía. O Alçado principal é dividido em alto e baixo por uma composição de vãos que mantém uma lógica mais pontual (tradicional) ao nível do R/C, salvaguardando a relação com a via pública, e que procura uma maior abertura à paisagem no 1º andar. Em ambos os pisos criaram-se elementos móveis para controlo ambiental, criando uma fachada transformável conforme as cambiantes climatéricas.
A empena a Nascente deste corpo é assinalada por uma vigia em balanço ao nível do piso superior, sob a qual se encontra a porta principal do edifício, à cota da rua, formando em conjunto um elemento de marcação da entrada no edifício, mas também na Baía de Porto Pim.
No prédio da Rua Nova mantém-se a cércea e desenho da fachada existente, subindo a altura da construção no sentido da profundidade do lote, com a pendente da cobertura, interrompida por uma fachada recuada de baixo perfil onde se coloca uma banda de envidraçados, e encimada pelo volume da chaminé, onde se integram diversos equipamentos técnicos e uma clarabóia. Esta composição e “em cascata” pretende criar uma transição volumétrica entre as duas frentes urbanas com que o edifício confronta.
A pormenorização foi pensada com base na construção tradicional, e nos ambientes do porto e dos barcos, indo de encontro ao tema central deste empreendimento.